RÁDIO CULTURA FM - 87.9 MHZ

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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Quando Deus nos olha

Uma senhora gostava de repetir uma singular experiência que vivera na sua juventude. Nascera numa pequena aldeia e, filha de uma família modesta, herdara a profissão da mãe - costureira.
Certo dia, a maquina apresentou um sério defeito e precisou ser levada a uma oficina de consertos que distava vinte quilômetros da aldeia. Colocaram-na num carrinho e se servindo da companhia de uma amiga pôs-se a caminho.

Quando chegaram, o técnico disse-lhes que o conserto demoraria algumas horas - o que de fato ocorreu. Portanto, já era noite quando as duas jovens retomaram o caminho com destino à aldeia.
A quietude da noite as incomodava grandemente e, temendo algum encontro desagradável, especialmente na floresta que forçosamente teriam de atravessar e que ficava distante de qualquer moradia, ambas concluíram que em tais circunstâncias só poderiam contar com a proteção do Senhor.
Ajoelharam-se à beira do caminho e humildemente suplicaram a Deus que as guardasse e as livrasse de qualquer forma de perigo.

Com os corações reconfortados prosseguiram na caminhada, seguras da presença do Senhor. Com um pouco mais de tempo, entraram na floresta. A noite estava clara, mas a sombra da folhagem escurecia de tal maneira a estrada que elas nem sequer podiam ver onde colocavam os pés; porém, seguiam confiantes, sabendo que o Pai nunca desampara aqueles que o buscam.

E nesse pensamento, de repente, viram um enorme cão pastor saído de algum ponto da floresta, aproximar-se delas e caminhar lado a lado com as duas. Ambas esperavam que o dono do cão aparecesse a qualquer momento, mas isso não aconteceu e lá seguiram elas o seu caminho, acompanhadas por aquele guarda providencial.

A escuridão crescia à medida que a floresta ficava mais densa e, em dado momento, eis que um homem atravessou-se no caminho, bem perto das jovens, enquanto elas, espantadas, se detiveram à medida que ele ia se aproximando. Foi aí que o guarda providencial entrou em ação.
Eriçou os pêlos, arqueou o corpo e se preparou para saltar sobre o intruso. Este, vendo as intenções do inimigo com quem teria de se bater embrenhou-se de novo na floresta. O animal prosseguiu caminhando ao lado das duas, até chegarem à casa da costureira.

Quando aliviadas abriram a porta e entraram, viraram-se para chamar o cão, na intenção de agradá-lo, mas o animal já havia se afastado e desaparecido na noite escura tão misteriosamente como havia aparecido, quando atravessavam a floresta. As duas jovens nunca mais viram o animal.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Um som por um perfume

Um pobre viajante parou ao meio-dia para descansar à sombra de uma frondosa árvore. Ele viera de muito longe e sobrara apenas um pedaço de pão para almoçar. Do outro lado da estrada, havia um quiosque com tentadores pastéis e bolos; o viajante se deliciava sentindo as fragrâncias que flutuavam pelo ar, enquanto mascava seu pedacinho de pão dormido.

Ao se levantar para seguir caminho, o padeiro subitamente saiu correndo do quiosque, atravessou a estrada e agarrou-o pelo colarinho.
- Espere aí! - gritou o padeiro. - Você tem que pagar pelos bolos!
- Que é isso? - protestou o espantado viajante. - Eu nem encostei nos seus bolos!

- Seu ladrão! - berrava o padeiro. - É perfeitamente óbvio que você aproveitou seu próprio pão dormido bem melhor, só sentindo os cheirinhos deliciosos da minha padaria. Você não sai daqui enquanto não me pagar pelo que levou. Eu não trabalho à toa não, camarada!
Uma multidão se juntou e instou para que levasse o caso ao juiz local, um velho muito sábio. O juiz ouviu os argumentos, pensou bastante e depois ditou a sentença.

- Você está certo - disse ao padeiro. - Este viajante saboreou os frutos do seu trabalho. E julgo que o perfume dos seus bolos vale três moedas de ouro.
- Isso é um absurdo! Objetou o viajante. - Além disso, gastei meu dinheiro todo na viagem. Não tenho mais nem um centavo.
- Ah... - disse o juiz. - Neste caso, vou ajudá-lo.

Tirou três moedas de ouro do próprio bolso, e o padeiro logo avançou para pegar.
- Ainda não - disse o juiz. - Você diz que esse viajante meramente sentiu o cheiro dos seus bolos, não é?

- É isso mesmo - respondeu o padeiro.
- Mas ele não engoliu nem um pedacinho?
- Já lhe disse que não.
- Nem provou nem um pastel?
- Não!
- Nem encostou nas tortas?
- Não!

- Então, já que ele consumiu apenas o perfume, você será pago apenas com som. Abra os ouvidos para receber o que você merece.
O sábio juiz jogou as moedas de uma mão para outra, fazendo-as retinir bem perto das gananciosas orelhas do padeiro.

- Se ao menos você tivesse a bondade de ajudar esse pobre homem em viagem - disse o juiz -, você até ganharia recompensas em ouro, no Céu.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O perigo da intriga

Penava em seu covil um leão já muito idoso. Cada dia chegavam notícias que o seu estado se agravava e que ele andava morre não morre. Todavia, apegado à vida como era, lutava contra a morte, por todos os meios.
Um dia, fez divulgar uma ordem aos animais que viviam em seus domínios para que, um a um, o visitassem e lhe dessem receitas de medicamentos que ajudassem a restaurar suas forças e restabelecê-lo da enfermidade que, lentamente, ia minando a sua vida.

Tão logo foram tomando conhecimento sobre a determinação do seu rei, a bicharada foi procurando encontrar algo que minorasse o sofrimento do leão. Diariamente, iam os animais visitá-lo.
- Onde anda a raposa? Por que se demora em vir? - indagou o rei ao lobo.
Este, intrigante e inimigo pessoal da raposa, não perdeu a chance:

- Eu sei. É que ela se considera superior e acha que Vossa Majestade já está mesmo no fim da vida, portanto, pra que perder tempo com um caco quase sem utilidade... Só mesmo uma desalmada como a raposa diria isso!
Ao ouvir tamanho insulto, o leão aborreceu-se ao extremo e furioso fez intimar a raposa para que imediatamente comparecesse à sua presença. Sem qualquer protesto, a raposa se apressou em atender a intimação do rei.

- Então é assim que me trata, vilíssimo animal? - disse-lhe o leão, indignado. - Já se esqueceu que ainda sou o rei da floresta ?
- Perdão, Majestade. Alguma coisa está errada na informação que lhe prestaram. Só não vim até agora, por andar peregrinando por outras plagas, à procura de uma solução para a enfermidade que abate o ânimo do meu soberano tão querido e respeitado por todos nós.

E quero que saiba que a minha prolongada procura não foi em vão, visto que lhe trago a única receita capaz de produzir as melhoras que o meu rei tanto deseja! - falou a raposa, com todo o desembaraço e demonstração de real interesse.
- Diga-me logo o que é, para que tome as providências - ordenou o leão.
- É necessário combater o frio que entorpece o seu corpo, revestindo-o com um capote de pele de lobo ainda quente, isto é, lobo escorchado na hora. E como está presente o seu fiel súdito - o lobo - ele lhe emprestará a pele com extremada alegria e galardoado pela oportunidade, garanto-lhe.

Eis aí o trágico fim de um intrigante...

Encontrando as moedas

Certo dia, um pequeno menino andando pela rua achou uma brilhante moeda de cobre. Ficou muito animado por conseguir dinheiro que não lhe custou qualquer coisa.

Esta experiência o convenceu a passar o resto de seus dias sempre andando com a cabeça baixa, olhos bem abertos, procurando por tesouros.

Ao longo de sua vida achou 382 moedas e notas.
Totalizando $13.96.

Conseguiu dinheiro por nada. Exceto que perdeu a beleza de 31.369 pôr-do-sol, o esplendor colorido de 157 arco-íris.
Ele nunca viu nuvens brancas movendo-se através de céus azuis, mudando entre várias formações maravilhosas.

Os pássaros voando, o sol a brilhar, e os sorrisos de milhares de pessoas que passaram não fazem parte de sua memória.

Quem sabe você está vivendo desta forma?
Cabeça voltada para baixo, carregado com coisas triviais, com medo da dor e da crítica e temendo coisas que nunca acontecem, esperando achar aquela moeda de cobre...
por nada.

Tradução: Sergio Barros

O carrinho

Quando pequeno, papai lutava com alguma dificuldade para manter a família, pois éramos cinco filhos, todos pequenos.
Como estávamos sempre a desejar um carrinho, como os filhos dos vizinhos tinham, ele, economizando um pouco, comprou-nos um esclarecendo que pertenceria a todos.

Ficamos muito contentes mas, em breve, estávamos brigando, cada qual julgando ter primazia para usar o brinquedo.
Não podendo adquirir um carrinho para cada filho, certo dia, depois de uma das nossas muitas discussões, ele chamou-nos para conversar.
- Vocês estão se desentendendo por causa do carrinho e isso não é bom. Mas há um meio de resolver o problema. Durante uma semana o carrinho vai pertencer apenas a um de vocês. Os demais se ocuparão dos trabalhos da casa, auxiliando sua mãe. Aquele que estiver com o carrinho poderá empregar o tempo do modo que quiser...

O plano não nos pareceu mau e, quando fizemos o sorteio para saber quem ficaria com o brinquedo em primeiro lugar, fui o contemplado. Fiquei muito satisfeito, mas nos dias que se seguiram percebi que brincar sem os companheiros era terrivelmente monótono. Trabalhando juntos, os meus irmãos pareciam mais contentes e felizes do que eu.
Confessei-lhes o que estava sentindo e decidimos conversar outra vez com papai.
- E vocês, sentem-se satisfeitos trabalhando sem o Juca?

Meus irmãos responderam que não. Além do trabalho ter-se tornado mais árduo, eles sentiam falta da minha companhia.
- Então, disse meu pai depois de pensar um pouco, por que vocês não resolvem o caso da seguinte maneira: antes vocês realizam, juntos, as tarefas da casa. Com o tempo que restar, pois o trabalho ficará reduzido, poderão brincar à vontade com o carrinho. Que tal a idéia?

Achamos que a solução era ótima. Começamos a trabalhar juntos, auxiliando-nos uns aos outros e, depois de tudo terminado, corríamos para o carrinho, usando-o para brincadeiras em grupo. Acabaram-se as brigas e até hoje eu e meus irmãos mantemos vivo esse espírito de cooperação e camaradagem.

Um presente

Um antigo conto de Natal fala de um menino humilde, que por várias razões sentia-se triste e quase um infeliz: o pai desempregado e o dinheiro nunca chegava. Ele sempre usava roupas velhas e remendadas. Precisava esperar muitas horas para receber algo para comer. Assim, enquanto andava pelas ruas com as mãozinhas metidas nos grandes bolsos, ele via crianças bem agasalhadas, em suas luxuosas casas, e pensava nas muitas coisas gostosas que elas encontravam ali para comer com fartura.

Cada vez que via nas vitrines os bonitos brinquedos, lembrava-se da irmãzinha doente e de cama; mas certa tarde, ele viu mudar a sua vida de menino pobre. Seguia caminho de casa quando uma senhora o fez parar, indagando sobre se o seu nome era Carlito Lemos.

- Sim, senhora - respondeu o pequeno, tomado de surpresa e espanto.
- Bem, o seu nome está na nossa lista e queremos que compareça a uma reunião da Sociedade Beneficente. Eis a sua entrada e não perca o papel.
- Oh!, isso é mesmo verdade? Mas, e para a minha irmãzinha doente? Talvez ela melhore e possa ir. Posso levá-la comigo? - arriscou o menino.

- Dessa vez não podemos dar uma entrada também para ela. Em outra ocasião ela será convidada, com certeza - argumentou a senhora.
À noite, lá estava o tristonho menino na festa. Comeu muita coisa gostosa, até chegar a hora de repartir os brinquedos. Cada criança escolheria o seu. Ele ficou fascinado por uma locomotiva de corda, mas, ao indagarem sobre o que ele iria escolher, o menino disse:

- Gostaria de ter essa locomotiva, mas vou escolher aquela boneca. - Tinha os olhos rasos de lágrimas, mas manteve a cabecinha erguida.
As outras crianças, não compreendendo o motivo da escolha, puseram-se a chamá-lo de Mariquita. Envergonhado, tomou seu boné e saiu com a boneca embaixo do braço; pouco depois, encontrava-se ao lado da cama da irmãzinha enferma, risonho e com ares de menino feliz.

- Que bom ver você. Eu estava tão só... Mas o que é isto aí? - perguntou.
Naquele momento, o menino esqueceu-se das desditas e estremeceu de alegria, vendo a felicidade da irmãzinha acamada. Entretanto, logo em seguida bateram à porta. Era ainda aquela mesma senhora do convite.

- Vim aqui para lhe dizer que, ao explicar para as outras crianças sobre a razão da sua escolha, eles ficaram arrependidos pela indelicadeza e pediram então que trouxesse para você também um presente. Aqui está. Feliz Natal! Que Deus o abençoe sempre. Boa noite...
O menino abriu o pacote. Era a locomotiva! Tomado de emoção e alegria, ele pulava junto ao leito da irmãzinha, rindo e repetindo:

- Deus é grande mas vê os pequenos! Ora viva! Agora eu sou o menino mais feliz do mundo todo! Feliz porque pude deixar de pensar em mim para lembrar da maninha e também feliz porque não fui esquecido.

O presente das rosas

Três homens, sendo um ingrato, um conformado e um generoso, foram visitados, no mesmo instante e local, por um Gênio saído da Lâmpada.
Diante do inusitado, um deles falou:
- Gênio, que nos trazes?
- Rosas ! - disse o Gênio.

E abrindo seu manto mágico, dele retirou três lindos buquês de rosas, que ofereceu aos visitados, entregando um para cada.
Antes de partir, olhou-os fixamente e, percebendo algum desapontamento por conta da simplicidade de sua oferta, justificou-se:

- Rosas ... porque elas são jóias de Deus: deixam a vida mais rica e bela!
Os homens se entreolharam surpresos e, após se despedirem, cada um seguiu seu destino, dando finalidade diferente ao presente recebido.
O ingrato, maldizendo sua falta de sorte por haver encontrado um Gênio e dele recebido apenas flores, jogou-as num rio próximo.
O conformado, embora entristecido pela singeleza do presente, levou-as para casa, depositando-as num jarro.

O generoso, feliz pela oportunidade que tinha em mãos, decidiu repartir seu presente com os outros. Foi visto pela cidade distribuindo rosas, de porta em porta, com um detalhe: quanto mais rosas ofertava, mais seu buquê crescia em tamanho, beleza e perfume. Ao final, retornou para casa com uma carruagem repleta de rosas.

No dia seguinte, no mesmo local e instante, os três homens se reencontraram e, de súbito, ressurgiu o Gênio da véspera.
- Gênio, que desejas? - disse um deles.
- Que as vossas rosas se transformem em jóias! - disse o Gênio.

Desta forma, o homem generoso encontrou em casa uma carruagem repleta de jóias, extraordinariamente belas, tornando-se rico comerciante.
O homem conformado, retornando imediatamente para seu lar, encontrou, pendurado sobre o jarro onde depositara as rosas, um lindo e valioso colar de pérolas. Resignou-se em ofertá-lo para sua esposa.

O homem ingrato, dirigiu-se ao lugar onde jogara o buquê de rosas, viu, refletindo sobre as águas, um brilho intenso, próprio de jóias valiosas, que sumiu de seus olhos quando se atirou ao rio no propósito de alcançá-las.

Flores do pó

Com a vida apressada, angustiada, tão absorta em pensamentos pequenos, sem entender a dor disfarçada em mal humor, pouso os olhos no menino, ali, dormindo.
No meio da rua, entre carros, passantes, cachorros e passarinhos destoantes, com as mãozinhas sobre a cama de papelão, agarradinho, inocente, no corpo do irmão.

A mãe sofrida, sentada no sujo chão, tentando esconder a vergonha e a fome, tendo à frente o pai, derrotado enquanto homem.
A dor oprimida no peito, sem conseguir engolir, ver assim alguém tão só, uma família - flores do pó. Ah, a cruz! Preguem-me na cruz.
Quero morrer por eles, morrer por mim, inerte, covarde, torpe!
Nada a fazer, senão sofrer? Não tem remédio, senão chorar?
Menino dormindo, como o meu, como os nossos, sonha sonhos de criança, com luzes e festa, com brinquedos e paz, sorvete, banho, banheiro. Alegria o ano inteiro.

Perdeu o endereço do céu, mas espera Papai Noel. Aquele pai e aquela mãe, sem teto ou dignidade, não sabem da missa a metade.
Não choram, apenas pedem, que a sorte mude e os ventos tragam a esperança e o sorriso do menino, que dorme ali no chão, tranqüilo, ao relento, desprotegido.
A leoa de dentes arrancados, o guerreiro sem escudo, sem lança, sem conseguir defender sua criança, olhar vazio, de alma apagada, sem ter mais nada. Nada a oferecer, senão seu corpo. Nada a pedir, senão o pão. E eu, e você, o que fazemos?

Vamos embora, com a consciência confortada de que nada podemos fazer, por não termos o poder. Qual nada! Eu posso. Você pode. Mas é difícil, é cômodo. Você tem lar. Eu tenho pão. Eles é que não.

A triste preguiça

O garoto era, decididamente, um preguiçoso! Todos sabiam disso mas ninguém atinava sobre a melhor forma de ajuda-lo a vencer essa preguiça. Seus irmãos acabavam sempre terminando as tarefas apenas começadas por ele ou simplesmente deixadas de lado, como acontecia muitas vezes.

Sempre que a mãe o incumbia de sair para lhe comprar alguma coisa urgente, ele dava um jeitinho ate conseguir passar a responsabilidade para outro. Não gostava de se levantar de manha e a mesa ele não tinha pressa de tomar a refeição, mesmo notando que já esperavam impacientes por ele.
E assim, dia após dia, o garoto ia ficando cada vez mais preguiçoso. Empurrava todas as suas obrigações para os irmãos e não se importava com coisa alguma boa ou má que fosse acontecendo ao seu redor. Certa tarde, tio Cornélio veio visita-los. Não custou muito para que ele percebesse que, enquanto as outras crianças trabalhavam, o menino só fazia de conta, ou nem isso se dava ao trabalho de fazer.

Pobre garoto, pensou o tio. Ninguém o suportará, se continuar assim. Preciso descobrir uma maneira de ajuda-lo! Depois de vários dias de observação continua o tio descobriu que uma das poucas coisas que o menino gostava de fazer era pescar. Então, discretamente, o tio falou perto dele como pessoalmente apreciava passeios, piqueniques e pescarias. O plano funcionou mais depressa do que se imaginava.

- Tio Cornélio, o senhor quer me levar para um dia inteirinho de pescaria? --pediu o menino ao entardecer de um certo dia.
- Bem, você não acha que os seus irmãos também gostariam de ir? Talvez a gente possa planejar o passeio e a pesca para o próximo sábado, lá no Lago dos Espelhos. Passaremos o dia todo por lá e retornaremos ao anoitecer. Os pais vibraram com a idéia e concordaram felizes!

- Mas muitas coisas deverão ser feitas antes do passeio - disse-lhes a mãe. - Eu farei a minha parte, providenciando um suculento e bem substancioso lanche, e cada um terá de fazer também a sua parte.
- Nos a ajudaremos naquilo que for necessário - propuseram os irmãos do nosso garoto, enquanto ele, silencioso, não se prontificou a ajudar em nada. Tio Cornélio, lá do seu canto, mantinha-se atento a cada detalhe.
Na sexta-feira a noite, as crianças, eufóricas e ansiosas, já não conseguiam mais esperar pela manha de sábado. O tio comunicou que partiriam muito de manha e que todos deveriam deixar suas roupas em condições de serem vestidas rapidamente. A essa altura o garoto foi dizendo:

- Procurem a minha roupa e coloquem de jeito pra eu vestir amanha.
- Nada disso, mocinho! Cada um terá de cuidar do que é seu. Essa é a minha condição; do contrario, não iremos - disse o tio com firmeza.
Na manha seguinte, todos pularam da cama e se arrumaram depressa, menos o menino, que nem se lembrou do passeio. Quando estava acordando ouviu a caminhonete já saindo. Era tarde demais...


Imaginação

Um senhor muito rico vai à caça na África e leva consigo um cachorrinho para não se sentir tão só naquelas regiões. Um dia, já na expedição, o cachorrinho começa a brincar de caçar mariposas e quando se dá conta já está muito longe do grupo do safári.

Nisso vê que vem perto uma pantera correndo em sua direção. Ao perceber que a pantera irá devorá-lo, pensa rápido no que fazer. Vê uns ossos de um animal morto e se coloca a mordê-los.
Então, quando a pantera está a ponto de atacá-lo, o cachorrinho diz:
- Ah, que delícia esta pantera que acabo de comer!
A pantera pára bruscamente e sai apavorada correndo do cachorrinho e vai pensando:
- Que cachorro bravo! Por pouco não come a mim também!

Um macaco que estava trepado em uma árvore perto e que havia visto a cena, sai correndo atrás da pantera para lhe contar como ela foi enganada pelo cachorro. Mas o cachorrinho percebe a manobra do macaco...
O macaco alcança a pantera e lhe conta toda a história. Então, a pantera furiosa diz:
- Cachorro maldito! Me vai pagar! Agora vamos ver quem come a quem!

- Depressa! Disse o macaco. Vamos alcançá-lo!
E saem correndo para buscar o cachorrinho. O cachorrinho vê que a pantera vem atrás dele de novo e desta vez traz o macaco montado em suas costas.
- Ah, macaco desgraçado! O que faço agora? Pensou o cachorrinho.
O cachorrinho ao invés de sair correndo, fica de costas como se não estivesse vendo nada, e quando a pantera está a ponto de atacá-lo de novo, o cachorrinho diz:
- Maldito Macaco preguiçoso!

Faz meia hora que eu o mandei me trazer uma outra pantera e ele ainda não voltou!
Em momentos de crise, só a imaginação é mais importante que o conhecimento.

Albert Einstein

Plantar

Aquele fora um dia diferente...
A tarde caía rápida e fria e o vento na folhagem amarelada anunciava que a chegada do inverno estava próxima.
Mateus, era um garoto de dez anos e se acostumara às alegrias descontraídas de sua pequena família, composta pelos pais e uma irmã mais nova que com ele compartilhava das brincadeiras infantis.

Mas a vida nem sempre nos reserva surpresas agradáveis. Era isso que Mateus descobrira naquele dia em que contemplava o corpo do pai, a quem tanto amava, estendido num caixão sobre a mesa.
Todos enxugavam o pranto, mas ele tinha nos olhos grossas lágrimas que se recusavam a cair. Nunca havia experimentado um sentimento igual. Era como se algo dentro do seu coraçãozinho tivesse se partido em mil pedaços.
O enterro foi consumado...
A vida deveria seguir seu curso, mas em seu lar faltava alguém.
Faltava a figura respeitável do pai amado.
Sobrava um lugar à mesa. Sobrava o pedaço de frango predileto do papai. O pudim se demorava na geladeira.

E Mateus pensava em como suportaria tanta amargura e saudade.
No entanto, a volta às aulas, às brincadeiras com a irmã, os piqueniques, as tardes no parque, trouxeram novo alento ao seu coração juvenil.
Um dia, a visita de uma amiga da família trouxe de volta as lembranças tristes. - A mãe falava da falta que sentia do companheiro.

Dizia que a saudade lhe acompanhava de perto e que era difícil a vida depois que o marido morrera.
E Mateus que, não muito longe escutava a conversa das amigas, aproximou-se e disse com a segurança de quem tem certeza:
- Mamãe, você disse que o papai morreu, mas eu asseguro que
isso não é verdade.
A mãe olhou-o com ternura e desejando consolá-lo, disse:
- Sim filho, o papai vive além da cortina que nos separa dele momentaneamente.
- Não, mamãe! O papai vive e viverá para sempre.
- Ele vive em mim através de tudo o que me ensinou...
- Quando sou obediente, eu o sinto em minha intimidade porque foi ele quem me ensinou a obedecer.

- Quando sou honesto, lembro-me das muitas vezes que ele enalteceu a honestidade.
- Quando perdôo meus amigos, quase o ouço dizer: "filho, quem perdoa não adoece porque não guarda o lixo da mágoa na intimidade".
- Quando sinto que a inveja deseja instalar-se em minha alma, lembro-me de ter ouvido de seus lábios: "a inveja é um ácido corrosivo que prejudica quem a alimenta."
- E quando, por fim, meu coração se enche de saudade e penso que não mais a suportarei, uma suave brisa perpassa meu ser e ouço sua voz falando baixinho: "filho, eu estou ao seu lado, não duvide".

- E é assim, mãezinha, que eu sei que papai não morreu. Sinto que ele continua vivo, não somente atrás da cortina que temporariamente nos separa, mas também através da herança de amor que legou a todos nós.

Quem deseja plantar apenas por alguns dias, planta flores...
Quem deseja plantar para alguns anos ou séculos, planta árvores.
Mas quem quer plantar para a eternidade, planta idéias nobres nos corações daqueles a quem ama.